Influenciadora sobrevive a ataque do irmão em tentativa de feminicídio
A ativista e influenciadora de 25 anos recebeu mensagens de ódio antes da tentativa de feminicídio

Laura Sabino foi vítima de tentativa de feminicídio cometida pelo próprio irmão. O crime teria ocorrido na manhã do dia 14 de março, mas a informação só se tornou pública nesta quinta-feira (12/6). O ataque aconteceu em Belo Horizonte (MG).
A influenciadora, de 25 anos, estava estudando em seu quarto quando ouviu um barulho e foi verificar do que se tratava. Ao olhar pela fresta da porta, foi surpreendida por golpes de faca desferidos pelo irmão. Segundo Sabino, os ataques duraram cerca de 20 minutos. Foram pelo menos nove golpes que atingiram seu abdômen, barriga e ombros. Em seguida, o agressor ainda tentou queimá-la viva. No entanto, enquanto ele saía para pegar o fósforo em sua mochila, Laura conseguiu pegar o celular, ligar para o namorado e fugir.
“Pensei que ia morrer. Sentia meu corpo ficando mais fraco. Esse episódio durou uns 20 minutos, mais ou menos, mas, na minha cabeça, foram duas horas”, relata.
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Documentos obtidos pela Agência Pública revelam que nem mesmo cinco boletins de ocorrência, a inclusão no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos e uma medida protetiva — concedida cinco dias antes do ataque — foram suficientes para impedir a violência que quase tirou a vida da influenciadora.
De acordo com ela, o crime pode estar relacionado a uma sequência de fake news publicadas por outro influenciador. As postagens a associavam ao uso de drogas e a acusavam de maltratar funcionários de um prédio na Zona Sul de Belo Horizonte — local onde ela nunca morou. Laura negou as informações e anunciou medidas judiciais contra o autor das publicações. Segundo ela, durante o ataque, o irmão fez menções às notícias falsas.
“Ele disse que eu era um personagem da internet, que defendo patifarias, que por isso eu estava me fodendo na internet”, afirma.
Áudios e mensagens enviados por ele à irmã revelam um discurso de ódio. Em um dos áudios, diz: “Você paga simpatia para todo mundo, para essas bichas, essas pessoas aí. Você, desde pequena, sabe que eu não colo com esse povo, com essas patifarias, e vem me abraçar.”
Em outra mensagem, escreveu: “Mas alguém podia tanto te matar, véi. Na moral. Vagabunda.” Ele também repetiu uma ofensa atribuída à própria mãe: “Você é uma vagabunda, que nem minha mãe falou.”
A Defensoria Pública de Minas Gerais informou que ainda não há um defensor designado para o caso. O autor foi preso em flagrante e, posteriormente, teve a prisão convertida em preventiva. Ele segue detido em Belo Horizonte enquanto aguarda julgamento.
Após a publicação da reportagem pela Agência Pública, que trouxe à tona a história, Laura Sabino se pronunciou nas redes sociais: “Pessoal, hoje a tentativa de assassinato que sofri se tornou pública. Nas últimas semanas, recebi mensagens e indiretas que me fizeram entender que esconder o que vivi só dá mais poder ao que aconteceu. Estou bem, segura e bem próxima a minha família e pessoas que amo”
Laura continua atuando nas redes sociais e participando de movimentos sociais. Ela e o pai, aos poucos, tentam retomar a rotina, lidando com os efeitos do trauma vivido.“Alguns dias são mais leves, outros são pesados. Quando deito na cama, tudo volta na minha cabeça. É como um luto”, compartilha.
Quem é Laura Sabino?
Desde 2019, Laura Sabino atua na produção de conteúdo político e, ao longo dos anos, consolidou-se como uma das principais vozes da esquerda brasileira no ambiente digital. Sua projeção cresceu significativamente quando alguns de seus posts aram a alcançar públicos diversos, como no episódio em que rebateu argumentos do deputado Nikolas Ferreira sobre o escândalo no INSS.
Criada em Ribeirão das Neves, município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Laura vem de uma cidade que, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), figura entre os piores lugares do país para ser mulher, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) feminino.
Segundo o estudo “Violência Política e Eleitoral no Brasil”, das organizações Terra de Direitos e Justiça Global, quase metade dos ataques políticos registrados entre 2022 e 2024 teve como alvo mulheres. O levantamento também aponta que a maior parte das agressões tem início nas redes sociais e, posteriormente, migra para o ambiente offline.
(Riulen Ropan, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Vanessa Pinheiro, editora web de oliberal.com)
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